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Representatividade na moda: a urgência da inclusão no setor

Representatividade na moda: a urgência da inclusão no setor

Representatividade na moda

Muito além de uma tendência ou estratégia de venda, a representatividade na moda surge como oportunidade de transformação estrutural no setor. Ao trazer pessoas reais, complexas e diversas para um universo muito marcado pelos padrões estéticos, o movimento colabora com uma reflexão essencial, tanto para empresas quanto para consumidores.

Em um mundo onde a tecnologia e a informação caminham juntas para promover discussões em escala global, marcas inclusivas, com pautas sobre diversidade racial, étnica, estética e de gênero, certamente se destacam. As novas gerações querem identificação, transparência e inclusão. Eles querem ser vistos, contemplados e valorizados pelas empresas.

Quer entender melhor a importância da representatividade na moda, além de exemplos e dicas para investir no movimento? Continue a leitura!

O que é representatividade?

O termo presume a defesa dos interesses e visibilidade de um grupo social ou povo. De maneira geral, estamos falando sobre dar vozes àqueles que são silenciados e marginalizados pela sociedade, seja por causa da raça, etnia, orientação sexual ou de gênero, aparência estética, entre outros fatores.

Na moda, a representatividade se traduz na não aceitação dos padrões de beleza excludentes, que destacam apenas corpos brancos, magros, cisgêneros e ocidentais. Trata-se de integrar às campanhas e desfiles aqueles que são invisibilizados, como negros, amarelos, gordos, LGBTQIA+s, PCDs (pessoas com defiência), mulheres e homens trans, pessoas não-binárias e povos de diferentes etnias, como muçulmanos, latinos, asiáticos, indígenas e tantos outros.

Gigantes do mercado como Calvin Klein, Gucci, Allure e Chilli Beans já se mostraram apoiadores do movimento, incluindo ícones como Ellie Goldstein, Jari Jones e Pabllo Vittar em suas campanhas. Isso mostra como a representatividade está ganhando força e relevância, e que esse processo urgente só tende a se tornar mais forte.

Três mulheres posando para campanha fitness
A representatividade na moda fala sobre ir contra padrões estabelecidos e celebrar a diversidade, seja ela racial, étnica, de gênero e sexualidade.

Representatividade na moda: para além de uma tendência

Quando pensamos na moda, no conceito das supermodelos e nas campanhas icônicas de épocas passadas, o denominador comum é um padrão estético bastante definido: mulheres cis, magras, altas, brancas, com cabelos lisos.

Por influência da mídia, essas referências criaram um parâmetro de “beleza” que valorizava certos corpos em detrimento de outros. Embora esse ideal tenha se transformado ao longo das décadas, é ele quem fomenta o mal-estar e a insatisfação das mulheres com a própria imagem.

Como explica Naomi Wolf em O Mito da Beleza, os padrões estéticos são criados para serem inalcançáveis. Dessa forma, eles encorajam mulheres a investirem em quaisquer recursos necessários para atingir o visual ideal daquele momento ou época. A grande problemática surge justamente aí, uma vez que essa “perfeição” estética não representa a beleza real.

De fato, existem pessoas que se encaixam nesses padrões, mas o mundo é muito mais complexo e diverso do que isso. A indústria da moda, ao ocultar essa diversidade, torna invisível toda uma população que quer e precisa ser contemplada. A moda necessita de pessoas reais, com corpos reais.

Além disso, a pandemia fez com que as discussões sobre o assunto ganhassem novas proporções. A busca por empresas socialmente responsáveis é um traço marcante desse período.

Afinal, diante de uma situação tão incerta e conturbada, o consumidor busca produtos e marcas que contribuam ativamente para um mundo melhor, mais justo e inclusivo. Identificação é o ponto central e, com uma população grande e diversificada, isso só existe quando a representatividade se faz presente.

Também é importante entender que, no cenário vigente, moda e autoestima são dois assuntos interligados. Se os padrões de beleza corporal não forem questionados, o setor colabora com um mal-estar geral, resultante da busca incessante das pessoas — especialmente as mulheres — em encaixar-se nos moldes excludentes.

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Exemplos de representatividade na moda

Para ilustrar de forma mais concreta o que a representatividade na moda significa, elencamos três exemplos de marcas de moda inclusiva, que se destacaram pelo trabalho em suas campanhas e desfiles. Confira a seguir: 

1. Desfiles da LAB

Exemplo de representatividade na moda: Desfile LAB
A Lab Fantasma, criada por Emicida e seu irmão, Evandro Fióti, celebrou a diversidade e a negritude em suas participações no SPFW 42, 43 e 44. | Imagem: Reprodução/FFW

Os desfiles da marca Lab Fantasma, criada por Emicida e seu irmão, Evandro Fióti, são exemplos incríveis da representatividade na moda. Na primeira participação, em 2016 no SPFW 42, a label desenvolveu uma narrativa idealizada a partir de influências da cultura africana e oriental, tendo como protagonista da coleção Yasuke, um samurai negro. Na passarela, modelos e amigos do artista celebraram a diversidade de corpos e a quebra do padrão estético.

Emicida, rapper reconhecido por ser um verdadeiro porta-voz contra o racismo, participou do evento com uma apresentação marcante, incluindo falas como “Hoje é o dia da favela invadir o Fashion Week”. 

Sua marca celebra a multiculturalidade, a negritude, a exaltação de corpos reais e o questionamento do poder hegemônico. Uma verdadeira aula sobre representatividade!

2. Ellie Goldstein x Allure’s The Beauty of Accessibility

Capa da revista Allure com Ellie Goldstein
Primeira modelo com síndrome de Down a figurar em uma capa de revista de beleza, Ellie Goldstein estrelou a edição de 2020 do The Beauty of Accessibility. | Imagem: Reprodução/Allure

A Allure é uma das grandes revistas e referências da indústria da beleza no mundo todo. A empresa possui uma série chamada “The Beauty of Accessibility” — tradução direta A Beleza da Acessibilidade — que, em 2020, teve Ellie Goldstein como capa, a primeira modelo com síndrome de Down a realizar tal feito.

Ellie já tinha aparecido em campanhas para marcas como Nike. Também foi modelo em um tutorial de beleza da Gucci que celebrava a diversidade. Com apenas 18 anos, já é um grande exemplo de como a indústria da moda e da beleza podem e devem valorizar as diferenças e nuances das pessoas.

3. Desfiles Savage x Fenty

Desfile Savage x Fenty
Rihanna revolucionou o mercado da moda ao incorporar e celebrar todos os corpos em seus desfiles da label Savage x Fenty | Imagem:Reprodução/FFW

A terceira edição do desfile da marca Savage x Fenty, linha de lingerie criada por Rihanna, foi disponibilizada pela Amazon Prime. O evento não teve plateia devido à pandemia do Coronavírus, mas contou com grandes momentos. 

Lizzo, Rosalía, Cara Delevingne, Shea Coulée, Normani, Demi Moore, Miguel e Frank Ocean são apenas alguns dos nomes que fizeram parte do elenco da megaprodução. Esse time diverso celebrou a liberdade sexual, o empoderamento feminino, a aceitação do corpo, a equidade salarial e a representatividade como um todo.

O primeiro evento da marca, em 2019, questionou o padrão e a hipersexualização dos desfiles da Victoria’s Secret, ao incorporar e celebrar a beleza que existe na diversidade de corpos. Além disso, todas as labels de Rihanna —  Fenty Beauty, Fenty Skin e Savage — valorizam e exaltam a importância da representatividade negra na moda. 

Fenty Beauty, por exemplo, foi a primeira marca de cosméticos a lançar 50 tons de base, em uma cartela extensa e extremamente inclusiva. Rihanna revolucionou o mercado e a sua marca de lingerie continua sendo referência quando o assunto é moda inclusiva e questionamento dos padrões de beleza corporal.

Como aderir?

Por mais que grandes iniciativas sejam observadas por gigantes do setor, pequenas e médias empresas também podem fazer sua parte. O movimento vai muito além das imagens nas campanhas, trata-se de promover a inclusão em todas as esferas.

Para começar, invista em um ambiente de trabalho diverso, com pessoas que contribuam com diferentes visões de mundo. Além da inclusão, isso enriquece os processos criativos e pode ser uma forma de incitar debates dentro da organização, pautados em vivências e experiências reais.

Demonstre interesse em ser uma marca inclusiva, crie uma rede de contribuidores igualmente responsáveis. Desenvolva estratégias de comunicação e campanhas que centralizem a pauta. Faça pesquisas internas e com clientes sobre o assunto, questione-os se eles se sentem representados e quais sugestões eles têm para que sua empresa continue melhorando.

Desenvolva produtos inclusivos, pense na variedade de corpos que existem. Inclua em suas campanhas modelos que não correspondem aos padrões. Questione a ditadura do corpo perfeito e procure ativamente por pessoas que quebrem com essa expectativa.

Estude, pesquise. Existem conteúdos nos mais diversos formatos, sejam livros, artigos científicos, podcasts, documentários, entre outros. Escute sobre a importância da representatividade diretamente de quem sofreu a marginalização na pele. Depoimentos e experiências nos ajudam a entender as dores e lutas dessas pessoas.

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Para reestruturar o setor, é preciso começar com pequenas ações, muito estudo e comprometimento. Todas as marcas podem, sim, promover a representatividade na moda e colaborar com um mundo que celebra a beleza em suas milhares de formas. 

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